sexta-feira, 9 de abril de 2010

Coimbra:Brutal acidente simulado testa resposta de meios distritais


Nada foi deixado ao acaso em simulacro que confirmou operacionalidade de meios para tragédias reais

Um autocarro com 25 jovens viajava ontem a caminho do Estádio da Luz, para ver o Benfica, quando uma viatura ligeira, em excesso de velocidade, se enfaixou na parte da frente do veículo pesado causando um morto, vários feridos graves e ligeiros, num brutal acidente ocorrido ontem, cerca das 10h30… nos terrenos da Feira dos 23.
No ligeiro, um ocupante encarcerado e projectado para a via, em estado muito grave. No autocarro, que tombou para a estrada, entre os gritos de socorro, muitos jovens presos nos bancos da viatura em estado crítico e outros, menos feridos, em estado de choque. Um cenário de verdadeira catástrofe.
Foi desta tragédia que se tiveram de “desenvencilhar” 67 homens de oito corporações de bombeiros do distrito, para além do INEM, PSP e Polícia Municipal, que ontem participaram num simulacro de acidente que testou o dispositivo da Protecção Civil Distrital numa situação de alto risco, colocando em acção todo o material de socorro que, habitualmente, não é utilizado pelas corporações de bombeiros ou do INEM.
Nada fica ao acaso. Desde a caracterização dos feridos (por exemplo um dos ocupantes da viatura ligeira tinha um braço “decepado”), passando pela estação de televisão, que acorreu ao acidente para as habituais reportagens e directos no “teatro das operações”. Afinal de contas, também é preciso testar quando e o que dizer aos jornalistas.
«Um ligeiro que ia em excesso de velocidade foi abalroado por um autocarro com 25 pessoas», informa, “em directo para a TVI”, Acácio Monteiro, comandante dos Voluntários de Brasfemes e um dos coordenadores das operações. «Temos vítimas encarceradas e um, mais complicado, encarcerado no ligeiro», continua, confessando tratar-se numa verdadeira tragédia «não muito frequente, felizmente, nas estradas portuguesas, até mesmo pelos meios envolvidos».
Não é difícil confirmá-lo. O hospital de campanha do INEM ficou pronto a receber os feridos em menos de cinco minutos. As ambulâncias, do INEM e de várias corporações de bombeiros não paravam de chegar para levar as vítimas mais graves para os dois hospitais.

“Simulacro disciplinado”
«Vítima do sexo feminino, politraumatizada, enviada para CHC», houve-se do posto de comando da Protecção Civil. Acácio Monteiro, ainda em directo para a televisão, confessa que o facto de haver dois hospitais nas imediações «facilitou o trabalho aos bombeiros» especialmente na rapidez do transporte.
Retirar o encarcerado do interior do ligeiro foi o trabalho mais demorado. Só hora e meia depois é que o ferido foi retirado da viatura, mesmo a tempo de evitar o incêndio que deflagrou no carro, prontamente apagado pelos bombeiros.
Cá de fora, Paulo Palrilha, do Comando Distrital de Operações e Socorro, comenta a importância do treino do desencarceramento, uma questão sublinhada também por Acácio Monteiro que apontou esta como uma das mais-valias do simulacro. «Felizmente, não é todos os dias que o utilizamos. Podermos fazê-lo aqui é motivador», comenta o comandante, já fora do “directo”.
Mas não se fica por aqui o treino. As equipas do INEM ensaiaram a resposta às vítimas no hospital de campanha e até o apoio psicológico aos vários feridos ligeiros que, para além dos arranhões, entraram em estado de choque com o cenário “dantesco” vivido no acidente.
Hora e meia após o acidente, e depois das contas feitas, Paulo Palrilha, no “briefing” com os jornalistas, anuncia um morto, 12 feridos graves e 12 ligeiros, socorridos por 67 operacionais e 20 viaturas (12 delas ambulâncias) dos bombeiros Sapadores, Voluntários e Brasfemes de Coimbra, para além dos de Montemor-o-Velho, Soure, Condeixa-a-Nova, Miranda do Corvo e Cantanhede.
Já fora da encenação, o responsável congratula-se com o êxito da experiência, que serviu para confirmar que «todos os meios estão prontos para uma situação real». «Foi um simulacro disciplinado», adianta Palrilha, garantindo que «uma coisa é o que vem nos manuais, outra é a prática. Aqui testam-se os tempos descompensados, que os manuais não permitem testar», remata.

Centro Biomédico reflecte sobre gestão de crise
No simulacro participou ainda o Centro de Simulação Biomédia (CSB) dos HUC, quer disponibilizando voluntários, quer equipamento. As imagens do trabalho das várias equipas que estiveram no terreno serão utilizadas amanhã, em duas aulas do curso “Gestão para Executivos e Directores”, ministradas por Daniel Raemer, um especialista americano responsável pelo Centro de Simulação da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América.
«O simulacro será aproveitado para reflexão», explicou ao Diário de Coimbra Martins Nunes, director do CSB dos HUC, esclarecendo que a formação, destinada a directores e executivos hospitalares, tem aulas sobre a gestão de crise, onde está englobada a resposta a acidentes como o que ontem foi testado.
(DC)

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