terça-feira, 6 de abril de 2010

Bombeiros de Penela perderam atrelado BREC

Mais de um ano de trabalho e empenho ficaram reduzidos a quase nada perante o olhar de desânimo dos Bombeiros de Penela. Falamos do Atrelado BREC – Busca e Resgate de Estruturas Colapsadas, que os Voluntários de Penela construíram e equiparam e um acidente destruiu. António Lima, segundo comandante da corporação e um dos principais mentores do projecto era, ontem à tarde, um homem desanimado. Todavia, os voluntários já começaram a juntar-se e a procurar soluções.

O acidente verificou-se no final do dia de sábado, quanto a equipa regressava a Penela, depois de mais uma acção de formação, nas instalações da antiga fábrica de cerâmica Estaco, em Coimbra. Sábado os testes envolveram a equipa de BREC – Busca e Resgate de Estruturas Colapsadas – e a equipa SGA – Salvamento de Grande Ângulo, num teste de resistência, que as obrigou a um trabalho ininterrupto para proceder ao resgate de quatro feridos e de uma vítima mortal.

No regresso a casa o acidente aconteceu. Foi no IC3, antes da localidade de Alfafar. A bola de engate do veículo que rebocava o atrelado partiu-se, originando o despiste e posterior capotamento. «Ainda estamos a tentar perceber o que aconteceu», afirma António Lima, que não encontra uma justificação lógica para o incidente. Com o atrelado à deriva na estrada, seguiram-se diversos capotamentos, uma situação facilitada pelo facto de a maioria do material ser «bastante leve», refere o comandante, sublinhando que se trata de equipamentos e peças construídos em fibra, alumínio ou contraplacado marítimo. Com os sucessivos tombos, o equipamento que estava solto ficou irremediavelmente perdido, e também ficou danificado material que sofreu o impacto do embate. “Salvou-se” aquele que estava devidamente acondicionado nos respectivos “cacifos”.

As contas ainda não estão feitas, mas António Lima aponta, desde já, para «mais de um ano de trabalho e empenho perdido», por parte da corporação e um investimento em equipamento «à volta dos cinco mil euros».

Ainda não refeito do choque, o segundo comandante dos Voluntários de Penela “não baixa os braços” e garante que a formação das duas equipas vai continuar e promete que a deslocação prevista para o próximo fim-de-semana, a Albergaria-a-Velha, se vai efectuar. O atrelado BREC está fora de causa, uma vez que a destruição é notória, mas o equipamento aproveitável vai ser transportado «onde e como for possível», assegura.

Dificuldades difíceis de superar

Equacionada está a ser a possibilidade de utilizar «uma carrinha de um bombeiro», refere António Lima, esclarecendo as dificuldades relativamente a viaturas, uma vez que «só temos ambulâncias e carros de incêndios», ou seja, viaturas que não estão preparadas para receber equipamento como este. E dá o exemplo dos Sapadores de Coimbra que, não tendo uma viatura específica para o equipamento de resgate e salvamento, têm este material distribuído por vários veículos, que possuem “cofres” onde pode ser acondicionado.

Solução “a prazo” poderá passar pela viatura que os bombeiros começaram a recuperar com o objectivo de garantir o reboque do Atrelado BREC, porque «temos as equipas preparadas e se houver alguma coisa têm de dar resposta», afirma António Lima, referindo-se às equipas especializadas em busca e resgate de estruturas colapsadas e em salvamento em grande ângulo. Esta viatura, «a primeira dos Bombeiros de Penela» e a «única viatura urbana» da corporação, entrou ao serviço no início dos anos 80, acabou por ser “abandonada” em 2003/4, refere o segundo comandante, recordando uma reparação com custos muitos elevados que teria de ser efectuada em Itália. A corporação chegou a equacionar a sua venda, mas a afectividades acabou por anular o negócio. Recentemente, começou a ser olhada com “outros olhos”, uma vez que os bombeiros viram ali a solução ideal para o reboque do atrelado. As alterações começaram a ser feitas, no sentido de retirar as bombas e tanque próprios de uma viatura de incêndio, ficando apenas a estrutura. A pintura foi terminada no final da semana passada.

Difícil será, certamente, adquirir um atrelado idêntico. «Foi um achado», reconhece António Lima, recordando os cerca de 700 euros que a viatura custou e que depois foi alvo de todo um processo de adaptação, de forma a ficar em conformidade com os requisitos legais, um tarefa que os bombeiros, orientados pelo «formador e amigo Alexandre Santos, da Figueira da Foz», garantiram. O segundo comandante confessa que já fez uma pesquisa na internet e o mais parecido e barato que encontrou «foi na Ucrânia e custa 750 euros». Um investimento que, pelo menos para já, parece estar “fora de hipótese”.

Voluntários começam a juntar dinheiro


E porque “os lamentos não levam a lado nenhum”, os bombeiros da corporação de Penela têm andado à procura de respostas e das conversas mantidas ao longo da manhã de ontem saiu a certeza que não vão ficar de braços cruzados. Ou seja, de acordo com António Lima, ao princípio da tarde já havia a certeza que cerca de três dezenas de elementos estavam «disponíveis para dar algum dinheiro», no sentido de, peça a peça, voltar a reunir o equipamento destruído. Um gesto que sensibiliza profundamente António Lima, que reconhece o espírito único «daquela rapaziada», que «continua ali, a olhar para o atrelado, a ver se conseguem aproveitar alguma coisa».

Este gesto de boa-vontade é o primeiro passo, mas o segundo comandante reconhece que são passos «difíceis», uma vez que ele próprio se sente «pouco à vontade em pedir apoio à direcção», uma vez que em causa está um equipamento de «serviço público», que não pode ser rentabilizado, ao contrário, por exemplo, do que acontece com uma ambulância.
(DC)

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